A
obra é, na verdade, a peça de teatro escrita por Jack Thorne baseada na história da autora J.K. Rowling, de Thorne e do
diretor John Tiffany. O personagem principal é Alvo
Severo, filho de Harry e Gina. O menino é, ao mesmo tempo, sensível e difícil
de lidar, pois as pessoas em geral evidenciam muito o fato do garoto ser o “filho
do Menino que Sobreviveu” e isso pesa muito nos ombros de Alvo.
Essa
relação conturbada entre o jovem e Harry é importante para movimentar a trama, pois
é esse sentimento de se mostrar tão ou mais valoroso quanto o genitor que
impulsiona Alvo a agir e também a mover a história. Por outro lado, é
justamente essa necessidade do menino e a forma como ele foi construído que fazem
com que o público – e me incluo nisso - não simpatize tanto com ele e eleja um
Malfoy – sim! – o melhor personagem do livro.
Pasmem:
Scorpius, o filho de Draco, é o bruxo mais interessante da história toda.
Inteligente, amigo, compreensivo...muitas qualidades que caberiam, inclusive, a
Hermione, a amiga genial de Potter. O irônico é que a filha da agora Ministra
da Magia é muito...chata. Além disso, Rose é preconceituosa e faz bullying com
o menino, o que, de certo modo, é interessante, se você lembrar que nos livros
e filmes era Draco e sua turma quem incomodava Mione e seus amigos. Só que a
menina é irritante e não é uma contraparte à altura.
Então,
ao invés de um trio, temos uma dupla de amigos formada por Scorpius e Alvo, que
funciona e muito, inclusive quando interage com os veteranos. E falando neles,
gostei da Mione, Gina, e até dá para acreditar na evolução de Harry, de um
menino curioso, determinado e muito teimoso a um auror um tanto cético e um pai
“careta”. Só acho que Rony foi o que mais perdeu nessa retomada da história,
pois ele só serve como alívio cômico, com piadas e comentários que muitas vezes
não funcionam.
Mas
vamos à história central da trama: Harry recebe a visita de Amos Diggory, pai
de Cedrico, o estudante da Lufa-Lufa morto por Voldemort no finalzinho de “Harry
Potter e o Cálice de Fogo”. O
bruxo pede a Potter que volte no tempo e salve seu filho. Potter se nega a
atender o pedido, destacando as graves consequências que esse ato poderia
desencadear.
Nessa
visita, Alvo e Scorpius conhecem Delphi, suposta sobrinha de Amos, que planta,
de leve, a ideia de viagem no tempo na mente dos garotos. Como o filho de Harry
está determinado a mostrar seu valor e se distanciar, ao mesmo tempo, da figura
do pai - prova disso é que ele vai para Sonserina, Alvo embarca com o amigo e a garota, mais de uma vez, para tentar salvar
Cedrico.
E
essas tentativas acabam por mexer na linha temporal e criarem aberrações como um
Cedrico Comensal da Morte, uma Mione amargurada, que é quase um Snape de saias
e, finalmente, uma realidade onde Potter morreu e o Mundo da Magia é comandado
por Voldemort e seu leal servo, o Agoureiro, que é nada mais, nada menos, que a falsa prima de Cedrico, Delphi.
Se
isso não bastasse, vem outra revelação: a jovem é filha do Lorde das Trevas com
Bellatrix Lestrange. Sim, Você-Sabe-Quem e a Comensal tiveram uma menina durante
a última guerra bruxa/Batalha de Hogwarts, mas o bebê ficou escondido até que
tivesse idade para cumprir a profecia e tentar impedir a morte do pai por meio
do regresso ao passado.
Acho
que essa revelação causou estranheza nos fãs porque, se analisarmos a série
original, ficou muito claro que Voldermort era egoísta o bastante para não
querer descendentes, pois estava empenhado em viver para sempre e não dividir o
poder com ninguém. Fora que não vejo ele se aproximando de qualquer pessoa,
ainda mais com o intuito de ter um filho.
Outro
ponto é que, diferente, por exemplo, de Bartô Crouch Jr. disfarçado de Olho
Tonto em “O Cálice de Fogo”, Delphi não dá indícios que é uma pessoa fria,
disposta a matar, e sim uma garota descolada, simpática, nada ali desperta
dúvida ou dá margem para interpretarmos de outra forma. Aí você pode pensar: “ah,
mas ela está enganando todo mundo, ela não vai transparecer quem realmente é”.
Ok, mas algum sinal, nem que seja em suas ações, deveria aparecer para, pelo
menos, insinuar que ela não seria confiável, mesmo que fosse para concluir que
ela era uma boa pessoa ou inocente frente a qualquer suspeita – como ocorreu no
caso de Draco ou Scorpius nesse livro.
O
outro ponto conflitante é que, do nada, somos apresentados às incríveis
habilidades de combate e voo de Delphi; novamente, no decorrer da obra toda,
ela não mostra um grande conhecimento mágico para, no final, todos ficarem
estarrecidos com filhinha do Lorde das Trevas.
Mesmo
com esses pontos que não curti muito, “Harry Potter e a Criança Amaldiçoada” é
um livro que busca aquele sentimento de nostalgia que você tinha ao ler a saga,
tão vívida ainda no coração dos fãs, e é uma oportunidade de rever, mesmo com
mudanças, personagens queridos dos livros/filmes.
Não
é tão incrível como a série original, não tem aqueles detalhes todos tão
característicos de Rowling, mas é um convite para se aventurar em uma nova
história naquele tão amado universo mágico.
*Texto e foto: jornalista Vanessa Irizaga, formada em Comunicação Social/Jornalismo, atualiza o Portal Contato e é idealizadora do Mistura Alternativa.
*Texto e foto: jornalista Vanessa Irizaga, formada em Comunicação Social/Jornalismo, atualiza o Portal Contato e é idealizadora do Mistura Alternativa.
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