Entre
latidos, lambidas, carinhos e sorrisos se fazem as manhãs das terças-feiras dos
alunos da AMA (Associação de Amigos do Autista) de Criciúma. Quem vê de longe,
acha que tudo é brincadeira, mas na verdade, há pouco mais de um ano, o
labrador Marley tem contribuído com os profissionais da Instituição na educação
e reabilitação dos alunos. Brincalhão e atento, Marley fica feliz quando vê os
alunos, pois sabe que é dia de brincar.
A
cinoterapia é uma abordagem terapêutica que tem como diferencial o uso de cães
como co-terapeutas no tratamento físico, psíquico e emocional de pessoas com
necessidades especiais.
Marley é
um cão do K-9 (departamento de cães
policiais) do 9º BPM (Batalhão da Polícia Militar). De acordo com a
psicóloga da AMA, Thaís de Oliveira Kiquio, o cão desperta o interesse dos
alunos.
“O animal
serve de mediador. Ele faz com que as crianças busquem entender o animal e
busquem o contato com ele”, pontua.
Todas as
etapas do contato com o animal fazem parte da terapia. “A primeira aproximação
às vezes pode ser um pouco receosa, mas logo o contato com o cão desperta o
interesse e o lado afetivo. Desde o ato de passar a mão e conversar com o
animal. O principal objetivo do cão é fazer com que ele explore nos alunos os
movimentos sensoriais e motores”, respalda Thaís.
Anos
antes, a atividade da cinoterapia já era realizada em Criciúma. O cão
especializado para o contato com os alunos da AMA se aposentou e as atividades
pararam de ser realizadas. Em 2016,
os policiais levaram o animal até os profissionais da AMA para conhecerem o Marley.
“Eu lembro como se fosse hoje, eles chegando lá na escola com o Marley ainda
filhote”, conta Thaís.
“Antes de
realizarmos a terapia, passamos por um trabalho junto a AMA com os policias e
com o cão, para todos entender o que era o autismo, entender esse contato com o
transtorno”, explica o comandante da CPT (Companhia de Patrulhamento Tático), capitão
Mário Luiz Silva.
O
labrador, raça do Marley, é constantemente utilizada em terapias e atividades
de pessoas com necessidades especiais. “Esta raça é melhor para esse tipo de
atividade. Eles são dóceis e brincalhões. O Marley quer brincar e nos dias da
cinoterapia ele desperta isso nele, pois ele saí do mundo do treinamento do K-9”,
pontua o adestrador do cão, Soldado Cubilhas.
De acordo
com o adestrador, o cão é o principal ator na terapia. “Nós só estamos ali para
amparar e corrigir o cão. Às vezes o Marley pula, ou corre e a gente está ali
de mediador para prevenir isso. Quem faz o papel da terapia mesmo é o cão e os
profissionais da AMA”, comenta Cubilhas.
Uma das
atividades propostas pela terapia é a interação social. No autismo, é comum que
os portadores tenham dificuldade com o contato do “mundo externo”. O contato
com o animal acaba sensibilizando o comportamental de cada um e despertando o
interesse pelo mundo externo.
Alguns
autistas tem problemas com a verbalização, mas com o Marley isso não foi um
problema. “Nós tínhamos um aluno que não verbalizava e, a partir da terapia,
ele começou a desenvolver a fala com o nome do animal, chamando o Marley”,
comenta a psicóloga.
O soldado
Gerônimo está há pouco mais de dois meses trabalhando com o Marley. No primeiro
dia de atividades que o soldado estava desenvolvendo com os alunos da AMA, já
observou o diferencial da terapia.
“Foi uma
atividade bem legal. É uma realidade totalmente diferente e para mim que tenho
filho, ver a atenção que as psicólogas dão de atenção aos alunos é muito
bonito”, explica. Para
Cubilhas, a terapia muda a forma de cada um pensar. “Era uma novidade para mim,
eu não sabia o que era. Você muda completamente, a forma de agir aqui dentro do
batalhão e a forma de agir de cada um”, enfatiza.
“É
notória a evolução dos alunos. Nas primeiras aulas a gente via o medo e o
anseio deles, mas hoje já chegam no batalhão chamando o Marley pelo nome”,
conclui Silva. Marley ainda participa de treinamentos para se tornar, além de
um cão terapeuta, um cão farejador.
*Com
informações e foto da Assessoria Voluntária da AMA/ 5ª fase de Jornalismo da Faculdade Satc.
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