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*Fotos: Warner Bros/ Netflix.
Finalmente temos a primeira temporada da série Sandman, da Netflix! Eu estava com um pouco de expectativa, e sim, o saldo é muito positivo! Eu cresci, assim como várias crianças e adolescentes dos Anos 90, lendo e assistindo sobre os heróis e vilões da DC - Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Coringa...já conhecia a HQ do escritor Neil Gaiman, mas só recentemente que tiver a oportunidade de ler. Antes de você seguir a leitura aqui, avisamos que há spoilers da série e dos quadrinhos!


Pois bem, vamos à história: Morpheus (Tom Sturridge, o Lorde Byron do filme Mary Shelley, que faz um bom trabalho como Sonho) vai à Terra buscar Coríntio (Boyd Holbrook, de Narcos, muito confortável como o terrível monstro), que escapou e está tocando o terror, retirando os globos oculares das pessoas - especialmente homens e jovens - para saborear suas lembranças e futuro. 

O sinistro ser com dentes no lugar de olhos foi criado para refletir o lado obscuro da humanidade no intuito de fazê-la mais consciente sobre si mesmo, mas, na primeira oportunidade, o rebelde foge. Para sua sorte, Sonho é capturado por um culto ocultista e, dessa forma, o pesadelo fica livre por anos.
Os captores do Rei dos Sonhos queriam a Morte (Kirby Howell-Baptiste, de As Trambiqueiras), para que esta 'devolve-se' dois jovens já falecidos, mas acabaram prendendo o irmão dela. No entanto, decidem deixar o Perpétuo preso e ainda o roubam, retirando seu rubi, a algibeira e o elmo, que contêm parte de seu poder. Esse ato causa consequências terríveis no mundo: pessoas que não conseguem dormir e se tornam quase zumbis ou ainda gente que caiu num sono profundo e acordou anos depois mais velho e alheio ao que ocorreu no planeta. 

Assim que consegue se libertar, Morpheus se vinga do filho de Roderick Burgess (Charles Dance, de Game of Thrones), fazendo-o ter pesadelos contínuos sem ter a certeza se está acordado ou dormindo, infinitamente. A passagem, nos quadrinhos, é mais sombria, mesmo a série flertando com o terror em alguns momentos, a exemplo da hora em que o homem acorda, já idoso, e se vê de novo menino no reflexo do espelho para, logo após, se deparar com o Mestre do Sonhar ao subir as escadas de um cômodo. 

O momento também serve para mostrar que, mesmo sendo o protagonista, Sonho toma decisões, no mínimo, questionáveis, pois, apesar de seus sequestradores serem responsáveis por todo o caos do mundo desperto com sua prisão, estes já não apresentavam mais perigo, sendo que vários já haviam morrido. 

O irmão da Morte foi mais brando com John Dee (David Thewlis, o professor Remo Lupin da saga Harry Potter), prisioneiro do Asilo Arkham que, de posse do rubi, matou quem passou pelo seu caminho e transformou os clientes e funcionários de um restaurante em suas marionetes. Acho que a interpretação de David foi bem cirúrgica, mas o resultado final na tela ficou mais ameno do que sua contraparte nos quadrinhos.

E para ir atrás de seus objetos perdidos, Oneiros recebe algumas pistas das Três Graças, responsáveis por tecer a linha da vida dos homens, numa cena muito interessante e menos cômica do que é no gibi. Assim, Kai'ckul vai até Johanna Constantine (Jenna Coleman, de O Paraíso e a Serpente), que estava até então com o pertence de Sonho. 

Jenna é muito carismática e transmite uma força para sua personagem, que existe nos quadrinhos e foi adaptada para aparecer nos dias atuais. Inclusive a Johanna da HQ é uma ancestral de John, vivido na telona por Keanu Reeves e na antiga série, por Matt Ryan, e da própria jovem que vemos na atualidade.

Como a série não poderia utilizar o famoso personagem por conta de direitos autorais, a moça protagonizou alguns momentos vividos por John na HQ, como o fato de Sandman ir ao seu encontro em busca da algibeira e dos dois irem até a casa de Rachel, ex-namorada de Constantine. A cena em que Morpheus cria um sonho final para a moça, que só se mantinha viva por conta da dependência da areia de poder, é breve, mas bonita. Minha única ressalva é sobre o exorcismo no meio da cerimônia de casamento para criar um certo embate entre Sonho e a personagem de Jenna. 

Acho que a cena poderia até ocorrer sem a presença de Oneiros, mais no sentido de demonstrar como são as missões dela no dia a dia. Entendo que esse é um momento criado para dar também mais tempo de tela para a atriz, como a produção fez com Holbrook, que interage com personagens, como Ethel Cripps (Joely Richardson, de Os Órfãos), em cenas que não existem no material original e que em nada acrescentam à história. 

Pois bem, vale muito lembrar de um dos melhores episódios, Uma Esperança no Inferno. Seja pela ambientação e o sentimento de perigo no ar ou a legião aterradora de demônios que assiste ao duelo intelectual de Sonho e Lúcifer (Gwendoline Christie, a Brienne de Game of Thrones, ameaçadora e magnífica no papel), como feras à espreita da presa, nos sentimos como Morpheus, ciente do perigo que o ronda e de que não pode falhar pois vidas dependem dele. A forma como a série ilustrou o embate e a dor física causada aos personagens foi muito inteligente e mergulha o público nessa tensão de saber quem será o vencedor, nas ótimas performances dos atores envolvidos. 
Meu outro episódio favorito é o Som de Suas Asas, que também é um dos meus preferidos nos quadrinhos. Kirby é a Morte empática e afetiva que conhecemos lá na HQ, no capítulo mais emocionante e bonito da série. A atriz é uma das escolhas certeiras do casting, mais até do que Tom como Morpheus. O pouco que vemos da relação desses irmãos é crível o suficiente para entendermos o porquê dela ser a irmã conselheira com quem o errático protagonista tem mais vínculo. 

É a partir de vivências como essa e do real entendimento de seu papel para com a humanidade, que Sonho se torna mais consciente, mas vemos que o Rei do Sonhar tem muito ainda o que aprender, seja com relação a erros cometidos ou a situações que surgem no horizonte. Vemos o quanto sua personalidade instável e com tendência à manipulação e arrogância minam não só sua relação com os demais, mas trazem consequências ao seu redor. 

Seja quando a bibliotecária Lucienne (Vivienne Acheampong, de Convenção das Bruxas) tenta alertá-lo sobre abalos sísmicos que estão afetando o Sonhar ou no momento em que ele elimina um pesadelo que pede para transformá-lo em um sonho, Morpheus age de forma arrogante e impulsiva, esquecendo o quanto Lucienne já lhe ajudou e ignorando as súplicas de um súdito, apenas por se sentir "desafiado". 

Isso mostra o quanto o Perpétuo ainda é imaturo e precisa melhorar, mas, assim como os humanos, pode mudar. Ainda sobre o núcleo dos habitantes do Reino dos Sonhos, preciso citar a dupla Caim (Sanjeev Bhaskar, de Unforgotten) e Abel (Asim Chaudhry, de People Just Do Nothing) que, apesar do pequeno espaço na trama, são um bom alívio cômico e lembram um pouco a dinâmica das bruxas Hilda (Lucy Davis) e Zelda (Miranda Otto), de O Mundo Sombrio de Sabrina. Lembrando também do corvo Matthew (Patton Oswalt, de Eternos), que traz suas sacadas incríveis e é um contraponto à sisudez de Morpheus, questionado seu mestre com comentários que nós mesmos queríamos fazer!

Um dos arcos abordados na trama, e que fecha a série, é Casa de Bonecas. Conhecemos a jovem Rose Walker (a estreante Vanesu Samunyai), que descobrimos ser um poderoso vórtice, que pode ruir com todo o mundo dos Sonhos, trazendo consequências para o mundo desperto. A moça está em busca do irmão, que sofre maus-tratos do pai adotivo, e da retomada dos laços com a bisavó Unity Kinkaid (Sandra James-Young, de Auf Wiedersehen, Pet), que havia mergulhado num sono profundo no período em que Sonho fora aprisionado.
A garota acaba se hospedando num imóvel com hóspedes singulares, cujo anfitrião Hal (John Cameron Mitchell, de Como Falar com Garotas em Festas) sonha em ser um artista de sucesso e brinda os moradores da casa com seus shows sob a pele de sua outra persona. Como o poder de transitar entre os sonhos, Rose acaba influenciando  a realidade e possibilitando que sua amiga Lyta Hall (Razane Jammal, de Paranormal) consiga engravidar do marido falecido e traga a gestação para o mundo real - sim, é o bebê Daniel, futuro Sandman.

Morpheus sabe que, no fim das contas, a garota terá que morrer; tentando trazê-la para seu lado, o Coríntio joga a menina contra Sonho, no intuito de acabar com ele. Esse conflito ocorre ao mesmo tempo em que acontece uma estranha convenção de assassinos, cuja principal atração é justamente a presença do famoso pesadelo. 

Coríntio acaba sendo destruído por seu mestre, mas Rose vive graças ao sacrifício da bisavó, o verdadeiro vórtice de sua geração. Morpheus acaba descobrindo uma trama sinistra para que ele matasse um parente, plano arquitetado por Desejo (Mason Alexander Park, de Cowboy Bebop), que violou Unity no passado. Além desse embate entre irmãos que está só começando, vemos que Lúcifer quer vingança contra o protagonista.

Vale recordar que apenas Sonho, Desencarnação, Desespero (Donna Preston, de Hard Cell) e Desejo apareceram até agora. O irmão mais velho, Destino, a caçula Delírio e o sumido Destruição só foram citados. Que venham mais temporadas! 

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